segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O Bosque

Estou em um bosque. Sou criança.
Ando descalça. Está escuro, mas não é noite. Nunca amanheceu.
Não há orientação. Estou sozinha.
Está frio e o vento sopra em direção contrária.

Desistir de andar. Sentar e chorar. Esperar socorro? Parece tão fácil.
Posso sentir o zumbido no ouvido.
Estou com medo.
O medo constante de ser atacada, surpreendida.

Cada som é uma ameaça. O farfalhar das folhas não acalma.
Há uma clareira à frente, mas parece não chegar.
A luz da lua não alcança meus pés.

Estou desprotegida. Ainda sem caminho.
Faz 26 anos que caminho por aqui.
O Bosque mudou muito desde que era criança.
Agora nele amanhece e eu sei me cuidar.
As vezes fico cansada e respiro fundo, mas a cada passo a clareira se aproxima.

Penso se talvez eu não esteja sonhando essa vida ou só relembrando enquanto sou velha em algum lugar sentada. Ou contando os dias à crianças curiosas que me ouvem atentas.

Talvez, só talvez eu esteja já em outro lugar.

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