Feche os olhos, eu digo devagar.
Estou bem atrás de você. Sussurrando no seu ouvido.
Dez anos se passaram.
Estamos de novo aqui.
Você ouve as buzinas e sirenes da cidade intercalando cada palavra minha.
O céu azul não carrega nenhuma nuvem dessa vez.
O sol toca sua pele como se derramasse vida em abundância.
Uma mão repousa em seu ombro, outra em seu coração. Está acelerado.
Estou dizendo que faz exatos dez anos hoje.
Estamos no telhado, de novo. Somos essa espécie de sobreviventes eloquentes e delinquentes do amor.
Mesmo de olhos fechados você sabe que estou sorrindo. Você conhece.
Sopro seu ouvido e a curva do seu sorriso também aparece.
Respiro uma vez e descanso minha cabeça em seu ombro.
Dez anos e estamos de pé. Aqui.
segunda-feira, 4 de novembro de 2019
O Bosque
Estou em um bosque. Sou criança.
Ando descalça. Está escuro, mas não é noite. Nunca amanheceu.
Não há orientação. Estou sozinha.
Está frio e o vento sopra em direção contrária.
Desistir de andar. Sentar e chorar. Esperar socorro? Parece tão fácil.
Posso sentir o zumbido no ouvido.
Estou com medo.
O medo constante de ser atacada, surpreendida.
Cada som é uma ameaça. O farfalhar das folhas não acalma.
Há uma clareira à frente, mas parece não chegar.
A luz da lua não alcança meus pés.
Estou desprotegida. Ainda sem caminho.
Faz 26 anos que caminho por aqui.
O Bosque mudou muito desde que era criança.
Agora nele amanhece e eu sei me cuidar.
As vezes fico cansada e respiro fundo, mas a cada passo a clareira se aproxima.
Penso se talvez eu não esteja sonhando essa vida ou só relembrando enquanto sou velha em algum lugar sentada. Ou contando os dias à crianças curiosas que me ouvem atentas.
Talvez, só talvez eu esteja já em outro lugar.
Ando descalça. Está escuro, mas não é noite. Nunca amanheceu.
Não há orientação. Estou sozinha.
Está frio e o vento sopra em direção contrária.
Desistir de andar. Sentar e chorar. Esperar socorro? Parece tão fácil.
Posso sentir o zumbido no ouvido.
Estou com medo.
O medo constante de ser atacada, surpreendida.
Cada som é uma ameaça. O farfalhar das folhas não acalma.
Há uma clareira à frente, mas parece não chegar.
A luz da lua não alcança meus pés.
Estou desprotegida. Ainda sem caminho.
Faz 26 anos que caminho por aqui.
O Bosque mudou muito desde que era criança.
Agora nele amanhece e eu sei me cuidar.
As vezes fico cansada e respiro fundo, mas a cada passo a clareira se aproxima.
Penso se talvez eu não esteja sonhando essa vida ou só relembrando enquanto sou velha em algum lugar sentada. Ou contando os dias à crianças curiosas que me ouvem atentas.
Talvez, só talvez eu esteja já em outro lugar.
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