Desceu o morro numa corrida só, parou no bar do Seu Tonho, pediu torresmo e a cerveja de sempre. Sentou. Esperou. Ela ia passar por ali naquela hora do dia, ele bem sabia.
Pagou o motorista, entrou no ônibus lotado, se segurou numa mão só e rezou para que alguém descesse no terminal próximo, só pra conseguir segurar a bolsa direito e não ter perigo de roubo dessa vez. Ninguém desceu. Ajeitou como pôde e respirou fundo. Vai chegar logo.
Ele perguntou a hora pro seu Geraldo que tava entornando mais um gole ao seu lado. Bêbado demais pra ver a hora, ele só emitiu um grasnado e balançou a cabeça. Ela desceu no ponto do ônibus. Ele correu do bar pra direção dela do outro lado da rua e começou a série de xingamentos.
Ela teve o cabelo puxado em direção ao asfalto. Todo mundo olhou na rua e virou o rosto. É “briga de marido e mulher, não se mete a colher, a senhora conhece o ditado não é mesmo Dona Gilda”. Os cachorros começaram a descer e latir no morro, as motos passavam correndo. Era tiro. Corre Pedrinho. É tiro! Os homi. Corre!
Um cachorro agarrou na canela dele. Ela aproveitou para se reerguer. Olhou a rua, viu uma moto com dois meninos sem capacete e descalços derrapando no chão metade terra, metade asfalto.
Aproveitou e empurrou ele na direção. A moto pegou com tudo e atirou o ex-marido longe.
Ela respirou aliviada até ouvir um tiro.
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