(…)
- Eu poderia fodê-la de três maneiras diferentes - sussurrou.
- Não estou interessada. - respondi.
- Eu poderia fazê-la chorar de prazer. - sussurrou de volta e cambaleou.
- Como se chora de prazer? - Indaguei.
- Você só precisa deixar eu te mostrar - E cambaleou mais uma vez com um soluço.
- Você está bêbado, para de falar besteira e vem dançar, vem - E o puxei. Cambaleante veio, agarrou-me fracamente pela cintura e deu dois passos lentos junto com os meus, afundando o rosto e bafo bêbado no meu pescoço.
- Por que você não me leva a sério? - Chorou e dançou timidamente.
- Por que você bebe e chora tanto? - E desatou a chorar e sorrir e cantar no meu pescoço.
- Você sabe o que é o amor, meu querido? - Quis saber.
- Já ouvi falar, dizem que se parece mais com uma enorme dor de barriga. Daquelas que dói até a alma.
- Dor de barriga? - Perguntei rindo.
- É… dor de barriga, sabe? Daquelas que dá um alívio danado quando vai embora. Sabe, você se sente mal quando tá vindo e durante é uma loucura de incômodo e quando finalmente sai tudo, você se sente aliviado pra caralho, me entende? O amor se assemelha a merda que sai de você no banheiro. Você só tem que aprender a dar descarga nessa merda toda e seguir em frente acumulando mais merda. - Chorou cada palavra como se fosse à última.
- Porra, parece que o amor dura pouco, então, o tempo de uma dor de barriga é coisa rápida e o amor também. – Pensei e falei pensativa.
- Hoje em dia sim. - E soluçou e chorou e cantou e me apertou.
- Ainda quer me foder de três maneiras diferentes?
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
SENTADINHA
Senta ali, vai.
Naquela cadeira, de frente pra mim.
Senta ali, com a perna bem aberta. Senta e tira essa calcinha, não, não, psiu tira devagar. garota, agora abre bem a perna, mais. mais cacete. te lembra que eu te pago a hora e faço o que quero contigo.
agora,
agora, me conta a hora,
me conta a hora que chegou aqui, como chegou aqui, me conta a história da tua vida. vai, me conta dos teus amores, todos, cada um com detalhes.
põe a cabeça na parede atrás dessa cadeira, relaxa.
E abre bem mais a perna, eu quero de comer com os olhos. quero estar dentro de você, sem estar. Quero saber o que é que tem dentro de você que me dá tanto prazer.
o que tu tem dentro de tu hein? me diz, cacete. NÃO.
Não diz não que eu quero descobrir só.
nada. você não tem nada demais. mas eu tô aqui te olhando um tempão e eu quero sentir tesão. me fala coisas sujas.
NÃO. Não. fala nada não. que eu te quero calada. muda. isso assim, só a tua boca meio abertinha e eu imaginando as coisas bonitas que poderiam sair dela. te quero assim.
abre a porra da perna. eu não cansei ainda de olhar pra dentro. deve ter alguma coisa aí dentro, escondido, no teu escuro que me mostre qual a realidade que me sinto.
Eu quero que tu me diga como tu consegue hein? como consegue sair por aí como se não devesse a porra de um amor barato pra mim. você me deve tá me entendendo? tá entendendo o que eu digo? você ao menos me ouve?
Me fala, me conta uma história, me fala que tá aqui mesmo.
me fala que eu não estou sonhando de novo.
abre a janela, boceja, grita. deita do meu lado e me diz que tu tá aqui mesmo.
que eu não estou sonhando de novo. que tu é a mais bem paga do mercado. que eu te pago bem pra cacete.
que tu nem merece.
me fala que tu gosta de ficar aí aberta e sentadinha tomando ar.
me fala que eu quero mesmo te ouvir. me fala que eu não estou sonhando ou tendo pesadelos.
me fala que tá aqui mesmo. que eu não quero te tocar essa noite, pra não te quebrar.
me fala que eu quero te ouvir por uma noite inteira!
me fala que tá aqui, caralho. me fala, por favor, antes que eu surte. que eu te agarre e você desapareça no ar. me fala pra não chorar, pra rir, pra não jogar essa garrafa inteira na tua cabeça de vento. me fala só que tá aqui, mesmo.
agora.
que tá aqui, agora, nesse momento. dando pra mim. e eu te como só de te olhar.
me fala, mas não levanta não, que se tu não for real nem quero que desapareça. quero que continue aí preenchendo meus olhos de faz de conta. e aproveita e ABRE a droga da perna. que se eu te pago, eu pago caro tá? eu pago com alma pra te ver assim, sentadinha, aberta e quietinha. te vendi a alma.
me fala.
Naquela cadeira, de frente pra mim.
Senta ali, com a perna bem aberta. Senta e tira essa calcinha, não, não, psiu tira devagar. garota, agora abre bem a perna, mais. mais cacete. te lembra que eu te pago a hora e faço o que quero contigo.
agora,
agora, me conta a hora,
me conta a hora que chegou aqui, como chegou aqui, me conta a história da tua vida. vai, me conta dos teus amores, todos, cada um com detalhes.
põe a cabeça na parede atrás dessa cadeira, relaxa.
E abre bem mais a perna, eu quero de comer com os olhos. quero estar dentro de você, sem estar. Quero saber o que é que tem dentro de você que me dá tanto prazer.
o que tu tem dentro de tu hein? me diz, cacete. NÃO.
Não diz não que eu quero descobrir só.
nada. você não tem nada demais. mas eu tô aqui te olhando um tempão e eu quero sentir tesão. me fala coisas sujas.
NÃO. Não. fala nada não. que eu te quero calada. muda. isso assim, só a tua boca meio abertinha e eu imaginando as coisas bonitas que poderiam sair dela. te quero assim.
abre a porra da perna. eu não cansei ainda de olhar pra dentro. deve ter alguma coisa aí dentro, escondido, no teu escuro que me mostre qual a realidade que me sinto.
Eu quero que tu me diga como tu consegue hein? como consegue sair por aí como se não devesse a porra de um amor barato pra mim. você me deve tá me entendendo? tá entendendo o que eu digo? você ao menos me ouve?
Me fala, me conta uma história, me fala que tá aqui mesmo.
me fala que eu não estou sonhando de novo.
abre a janela, boceja, grita. deita do meu lado e me diz que tu tá aqui mesmo.
que eu não estou sonhando de novo. que tu é a mais bem paga do mercado. que eu te pago bem pra cacete.
que tu nem merece.
me fala que tu gosta de ficar aí aberta e sentadinha tomando ar.
me fala que eu quero mesmo te ouvir. me fala que eu não estou sonhando ou tendo pesadelos.
me fala que tá aqui mesmo. que eu não quero te tocar essa noite, pra não te quebrar.
me fala que eu quero te ouvir por uma noite inteira!
me fala que tá aqui, caralho. me fala, por favor, antes que eu surte. que eu te agarre e você desapareça no ar. me fala pra não chorar, pra rir, pra não jogar essa garrafa inteira na tua cabeça de vento. me fala só que tá aqui, mesmo.
agora.
que tá aqui, agora, nesse momento. dando pra mim. e eu te como só de te olhar.
me fala, mas não levanta não, que se tu não for real nem quero que desapareça. quero que continue aí preenchendo meus olhos de faz de conta. e aproveita e ABRE a droga da perna. que se eu te pago, eu pago caro tá? eu pago com alma pra te ver assim, sentadinha, aberta e quietinha. te vendi a alma.
me fala.
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
Sob meus ombros
Eis me aqui
Uma leve e pequena criatura de passos curtos
E mente longe
Eis me aqui
A andorinha que não alça voo
Eis me aqui
Presa
Eis me aqui sucumbida em letargia
Eis aqui de ombros pesados e dor constante
Sobrevivendo um dia de cada vez
Eis me aqui um pássaro preso em sua gaiola
Servindo ao circo
Servindo a vida
Servindo de cobaia
Servindo de show
Observando a plateia
Eis me aqui
Estou realmente aqui?
Eis me aqui e
Eu não sei por quanto tempo
Estarei aqui
Até que minha mente se desligue, dessa vez, pela última vez.
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Há alguém encarando a máquina de tirar xerox, uma vez repetida e
mais uma vez repetida vez até a outra.
Há alguém encarando sua tela de celular.
Seu rosto de acende pela luz do aparelho e seus olhos estão injetados de prazer
mudo, seus lábios se contorcem em um meio sorriso que nunca será visto pela
pessoa do outro lado.
Há alguém encarando em silêncio um aviso na parede. Há alguém
escrevendo com uma caneta em um caderno, essa pessoa desaprendeu como escrever
com caneta, essa pessoa só sabe digitar, seu corretor sempre corrige suas
palavras erradas, a caneta não, o caderno não.
Há alguém parado mudo tomando um café do outro lado do
escritório. Em uma mão ergue o café, na outra seu celular. Essa pessoa está
vivendo aquela vida invisível e sustentada enquanto durar sua bateria.
Há alguém na multidão querendo ser alguém, querendo ser
gente grande. Querendo vencer na vida.
Há alguém que você vai esbarrar se não olhar para frente enquanto digita.
Há alguém que você não dirá por favor hoje.
Há alguém que você não dirá obrigado hoje.
Há alguém que você não dirá até amanhã hoje.
Há alguém querendo ser abraçado hoje.
Há alguém que vive uma mentira virtual hoje.
Porque você sempre acha que haverá um amanhã para fazer tudo que hoje não parece necessário.
Há alguém que você não sabe nem mesmo quem, que está
visualizando seu perfil nesse momento, se perguntando por que você o atualiza
tanto? Você tem tanta vida assim para ser compartilhada? Ou você não
tem vida nenhuma e está apenas fingindo?
Deve haver alguém que realmente viva por aí.
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Pedra
Conheça Pedro.
Pedro tem 27 anos e não faz a menor ideia do que está
fazendo com sua vida. Pedro é solteiro, solitário e gosta de vídeo game. Ele
tem olheiras ao redor dos olhos e um emprego entediante. Pedro se tornou robô
semana passada. Ele mecanicamente exprime sentimentos que fazem todos
acreditarem que ainda é humano. Sorri quando acha conveniente e assume tom sério
quando acha que deve. Pedro não tem amigos. Pedro não tem cicatrizes. Pedro não
consegue mais ficar bêbado. Pedro ainda não experimentou drogas. Pedro fuma
cigarros às escondidas. Pedro acorda de manhã querendo dormir. Pedro acorda
pela manhã querendo morrer. Pedro é uma máquina em processo de enferrujamento.
Pedro reteve toda e qualquer forma de amor. Pedro reteve em suas mãos o pássaro
queria voar pra bem longe e ser feliz.
Pedro é infeliz.
Pedro quer chorar.
Pedro não pode mais chorar.
Pedro hoje de manhã virou uma pedra.
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Agosto de 2014 - quando não houver mais saída.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Dumb
Almas sem destino a serviço do sistema. Hipnotizadas pelo
conforto e controle. Hipnotizadas pela rotina. Com sorrisos borrados aos rostos
pálidos. Vividos em súbita e sombria existência.
Perdemos as grandes guerras. Estão vencidas, dizem os avós. Perdemos
porque nascemos nessa geração online e off-line. A revolta está entorpecida por
cosméticos e rivotril. A cura do sistema, a serviço do sistema. Em massa, em
comando, em multidões insones, invisíveis. Descolocando-se para cair em colisão
com a cegueira mutua e congelada da igualdade social patrocinada em demasia por
partidos políticos.
Não estamos realmente vivos até que sintamos medo, não
estamos vivos se estamos sempre online. Não estamos vivos se estamos sentados
em frente a uma tela hipnotizante. Não estamos realmente vivos se estivemos
entorpecidos.
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