domingo, 18 de outubro de 2020

a garota de jardineira azul

tic tac

tic tac

Alarme

Uma mão pousou pesada sobre o alarme desligando o incessante barulho e virou para o lado. Desejava muito apenas mais cinco minutos de sono, mas sabia que hoje seria diferente e tinha que levantar o mais breve possível. Fez isso. Levantou e encarou o espelho, respirou fundo uma vez, duas vezes e finalmente decidiu entrar no banho. Uma hora depois estava pronta tentando focar em sua respiração como lhe ensinaram tantas e tantas vezes. A jardineira azul estava lá, finalmente vestida. Sua cor favorita.

Tinha medo, um medo muito grande de tudo voltar à tona, tudo que conseguiu se livrar, mas decidiu que essa porta tinha sido fechada ano passado. Esse ano ia ser diferente, tinha que ser. Sufocou as lágrimas e desceu apressada as escadas, sorriu aos pais e saiu pela porta da frente apressada, pois não tinha mais tempo de comer nada. Estava atrasada como de costume.

Subiu na bicicleta e pedalou com determinação até a escola. 


(continua)


demasiadamente

Perdi as contas de quantas vezes já entrei nesse período de introspecção dentro da minha mente.

Perdi as contas de quantas vezes quis desistir de tudo, largar absolutamente tudo e é difícil ouvir minha mente, tomar iniciativas, decisões, rumos. Começar algo novo e realmente traçar o famoso "objetivo".

Eu não sei o que há comigo, mas eu sinto vontade de tudo, mas não tenho força de vontade para absolutamente nada. Sempre que me vejo assim, navegando em mares rasos demais, círculos confortáveis demais, mas que me entristecem não sei o que fazer. Sinto as mãos atadas. 

O cansaço quase louco de tentar, tentar e não chegar a lugar nenhum. O fracasso gritando ao meu ouvido. 

Tempo e dinheiro parecem inimigos cruéis demais que eu nunca vou vencer. As velhas paixões parecem demasiadamente exauridas, como se o simples ímpeto de tentá-las fossem uma piada de mau gosto, porque eu sei que não vou insistir. Não vou persistir. Em nada.

As vezes me pergunto se a tecnologia me tornou essa criatura imediata, com pressa, sem paciência. Essa criatura que odeia tanto o relógio, mas está sempre de olho nele, como se eu pudesse controlá-lo. Memorizá-lo ou impedi-lo de ir tão rápido, tão depressa. Odeio o tempo. 

Odeio observá-lo com tanta frequência. Odeio a impotência diante dele. 

Eu só queria uma chance, uma luz, um caminho, um aviso, um sinal.