Quando eu era pequena achava que minha vida não era real.
Era fruto de algum filme infantil que assistia na época, quando entrei na adolescência
não achei que viveria muito. Tinha certeza que morreria aos 18 anos e não havia
vida após isso. Conforme os anos foram passando eu fui aprendendo que era uma
parte de quem eu era não querer ser quem eu era. Quem eu via no espelho, quem
eu enxergava na fotografia. Eu era uma parte extensa de mim mesma.
Era louco. É louco. As vezes ainda me sinto assim, não
enxergo quem eu sou em fotografias antigas ou mesmo atuais. Sinto-me presa em
uma espécie de maquete enorme com pequenas peças que se movimentam e se batem
de repente.
Como mecanismo de fuga, de aceitação, você se descobre
buscando formas de suportar os anos, a vida, os erros que cometeu, que vai
cometer, os acertos; você tenta se achar na escrita, na música, na escola, na faculdade,
no trabalho, no amor. No entanto, algumas pessoas nunca conseguem realmente
entender suas vidas, suas dificuldades e vão sucumbindo em grandes e pequenos
terremotos dentro de si mesmo, se desfazendo em mil pedaços. Eu me sinto assim
as vezes, eu vejo pessoas assim as vezes. Tudo parte de um plano louco de fugir
de onde você está, porque não conseguiu dar um pouco de felicidade a quem ama. E
tudo bem, cara, não é culpa de ninguém, a vida é assim, você quer tanto algo e
esse algo acontece e te mostra que não era disso que você precisava, você nunca
vai saber o que precisa ou precisava. Você nem sabe quem se tornou, se descobre
adulta uma manhã e te dão obrigações, deveres, metas, objetivos. Você é uma
estranha, vivendo a vida de uma estranha personagem que criou na infância e faz
de conta ser todo dia e então você quer correr, quer gritar. Se esconder. Fugir
daqui e de si mesmo. Para outro lugar, outro país, você só quer e precisa se
movimentar, sair por ai em busca de se conhecer, como se algum estranho na rua
pudesse te parar e dizer: “Hey, eu te conheço, posso te dizer quem é você. O
que quer. O que precisa, eu posso te dar o que sempre faltou, o que sempre procurou.
” As pessoas não podem isso. Eu não pude isso. Eu não posso. Eu vou continuar
tentando? Eu não sei. Sinto-me bruscamente desaparecer completamente. Uma figura
abstrata em busca de reconhecimento. Eu sei apontar dedos. Eu não sei olhar os
dedos que me apontam. Eu sou humana.
Eu sou carne, sangue e loucura. Eu sou lágrimas.
Na escuridão do meu quarto. Em meados de setembro, 2016.