1 hora e 10 min.
Com os olhos injetados pela dor, ousou reclamar as pernas à última força que lhe restava. - Abriu a janela. - A cidade despertava. Nada mais estarrecedor que existir. - ouviu ressoar em sua mente.
Havia uma preguiça aguda em existir, mas só hoje admitira para si tal verdade. Parecia-lhe cansativo o mero ato de abrir os olhos pela manhã. Aquela manhã ensolarada que entrava pela janela sem ser anunciada. Perturbador. – Era perturbador viver; tornara-se doloroso; viver lhe doía. Respirar. Falar. Mover-se. Existir.
Só restara-lhe a solidão, a loucura e meio copo de café amargo. De sóbrio o gato sobre a poltrona que acordava a pouco, o cigarro ainda aceso sobre a mesinha de centro queimava exalando o cheiro que mais amava no vício, a fumaça se apossara do cômodo. - Examinou a única folha que conseguiu escrever na noite passada: estava rasurada, machada de café e dor. As palavras transbordavam dor, reafirmavam-lhe a dor.
Pareciam verdadeiras; cruelmente verdadeiras demais para guardá-las para si.
Sentou-se na cama irritada; algo lhe incomodava mais que tudo. A estranheza de suas palavras pareciam-lhe reais demais para serem suas ou talvez só estivesse tudo conturbado demais para analisar naquele momento. - Fragmentos de sua alma acumulavam-se nos olhos, deixou-os cair e rolarem pelo rosto como se pudessem lavar todo e qualquer ressentimento; talvez em algum momento fizessem sentir-se melhor.
Recordou-se de uma música, que falava sobre a rotina, algo como: a rotina corroía duramente, cantarolou este trecho por um segundo e parou logo em seguida. Gostaria de expor tudo aquilo que a matava aos poucos, aos golpes, aos montes, mas nunca encontraria a resposta, sabia disso mais que ninguém. – Verificou se seu coração batia. Ele estava firme, para seu desespero. Batia como nunca.
Entregou-se ao dia da mesma forma que acordou: sozinha. – Pela noite ligou seu abajur na mesinha, sentou-se, atiçou a caneta na mão e escreveu exatamente aquilo que sentia:
“Meu caro, estou à deriva de um delírio de lucidez, por isso escrevo-lhe ainda sóbria, bebi o gosto amargo da bebida mortal que me mata nos últimos dias, a bebida da solidão. Adentrei ao espaço egocêntrico da minha mente que me permite pensar somente em mim, em como sofro e gosto do sofrimento. Meu coração raquítico aperta-se a realidade de ter que me perder de você, mas assim tem que ser. Tu sabe como sou o drama em pessoa, por isso mesmo serei breve em minhas palavras corriqueiras e demasiadamente pobres de enredo.
Continua (...)
segunda-feira, 30 de junho de 2014
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Respaldo
Sentava-se de pernas cruzadas. Saia curta, botas de cano longo. Usava vestido sempre que possível e meia calça rasgada.
Tinha no braço esquerdo uma pulseira de couro, detalhada. Seus cabelos eram curtos, não muito bonitos. Admirava a vista, as luzes da cidade, a música envolvente ao longe. Não falava e não sorria. Tinha uma pose séria e atraente. Vestia preto sempre que possível e exibia lábios pintados de roxo.
Tinha 20 anos, mas poucos sabiam, acreditam que tinha menos. Muito menos. Uma menina!
Suportava dores invisíveis, acumulava desafetos e repetia rotinas sufocantes. Sorria e ninguém via, chorava e todos riam. Carregava ideias e sonhos avulsos e tinha medo da morte, tinha medo de ficar velha.
Via filmes compulsivamente, se atraia por músicas que lhe trouxessem cálida loucura.
Faltava pouco mais de um mês para seus 21 anos e não fazia a menor ideia do que queria ser quando crescer.
A morte lhe parecia linda, pura, suave, certa, atraente e próxima.
Tinha no braço esquerdo uma pulseira de couro, detalhada. Seus cabelos eram curtos, não muito bonitos. Admirava a vista, as luzes da cidade, a música envolvente ao longe. Não falava e não sorria. Tinha uma pose séria e atraente. Vestia preto sempre que possível e exibia lábios pintados de roxo.
Tinha 20 anos, mas poucos sabiam, acreditam que tinha menos. Muito menos. Uma menina!
Suportava dores invisíveis, acumulava desafetos e repetia rotinas sufocantes. Sorria e ninguém via, chorava e todos riam. Carregava ideias e sonhos avulsos e tinha medo da morte, tinha medo de ficar velha.
Via filmes compulsivamente, se atraia por músicas que lhe trouxessem cálida loucura.
Faltava pouco mais de um mês para seus 21 anos e não fazia a menor ideia do que queria ser quando crescer.
A morte lhe parecia linda, pura, suave, certa, atraente e próxima.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
segunda-feira, 16 de junho de 2014
O Assalto.
De súbito o grito, o choro, a
promessa. O pedido.
Por favor,
meu senhor, tenha piedade dessa alma que vos roga apelo; promessa; pedido. Por
favor, meu deus, me salve. Proteja-me.
Passe tudo
que tiver, passe o celular, a carteira, o relógio, tudo de valor. Inclusive a
alma, permanentemente a vida. Passe logo, passe agora, passe em uma bandeja. Ou
vos tiro a vida. Levo-a. Talvez tire de qualquer forma.
Um tiro.
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