acontece uma coisa meio louca dentro da minha cabeça.

as vezes esqueço que posso ser bonita. me encaro no espelho, me esqueço e não me reconheço. procuro quem é essa mulher me olhando de volta no espelho e não sei quem é. essa falta de reconhecimento é recorrente e preocupante, porque já enfrentei uma forte dissociação no passado.

daí, como uma espécie de eufemismo egocêntrico busco fotos minhas em redes socias e fico olhando. identificando defeitos, buscando vida, buscando eu, buscando a criatura que sou, fui, vou ser. e daí, as vezes, excluo fotos, porque sei lá. nem me identifico mais.

acontece também com frequência eu ser outra pessoa. essa pessoa são várias, porque são personagens que criei: falam, vivem, amam e fodem dentro da minha cabeça. porque eu crio personagens desde criancinha. desde que entendi que amava a escrita loucamente, desde que me trancar no meu quarto para abafar os berros de brigas dos meus pais e criar a outra dimensão dentro da parede me protegeria do mundo. 

e daí eu lembro que não sou mais essa menina. essa criança. sou essa mulher de 30 anos e preciso encarar meus medos, ser a protagonista.

curioso, porque os dois livros que li recentemente falam sobre isso. ser a protagonista. e também minha psicóloga falou exatamente sobre isso nas últimas sessões. eu preciso ser protagonista da minha própria vida. 

mas eu prefiro dormir. mergulhar loucamente em outro universo, outra vida, onde tenho outro rosto, outro gosto e outra personalidade. nesta vida que idealizo sou bonita, me reconheço e amadureço, sou corajosa e destemida e sou despertada para uma vida perfeita de amor. 

talvez eu não devesse ter passado tanto tempo trancada. trancada dentro da minha cabeça, dentro do meu quarto, dentro da parede que criei do lado da cama para fugir das brigas lá fora. agora para sair a passos largos para fora é complicado, doloroso e agonizante.

espero um dia nunca mais deixar de me reconhecer, de me amar. espero nunca mais sentir essa coisa louca de me perder de quem sou. de não me encontrar. 

talvez essa coisa sem nome deixe de existir algum dia.


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