Carta aberta à ela

 Nos encontramos todo ano, nessa época do ano. Faltando poucos dias pro aniversário dela. Ela sempre senta, chora, grita e escreve. Costuma fazer planos também e desce alguns degraus para encontrar a loucura, quase sempre assisto tudo calada, mas dessa vez decidi escrever uma carta à ela. 

   É um ciclo não? Viciante. Impotente você revisita momentos de alegria através de fotos, se lê para se entender um pouco mais e observa o que mudou no rosto, se envelheceu. Dessa vez notou que sim, envelheceu. Parece inevitável que isso iria acontecer cedo ou tarde, observou que o olhar se tornou mais cansado, mais desanimado, vai fazer o que? Vai aceitar. Só resta isso. Morreu a menina faz tanto tempo, restou a mulher. Ela é estranha sabe? Mas é melhor que a menina, muito melhor que a adolescente e a criança. Elas se foram. 

   Restou a mulher. Corajosa, mas ainda fraca. Ela tenta se recordar se está aproveitando o tempo do jeito certo. Ela sabe que não. Ela nunca esteve. Nunca soube aproveitar nada direito. Poucas foram as vezes que realmente relaxou, aproveitou. A agitação veloz e esmagadora é culpa do relógio ela diz. Não é não. É culpa dela. 

   Vai chegar os 28 dela. Que coisa. 

Comentários

Postagens mais visitadas