Preta!

Meia noite.

Estou engasgada. Com a voz embargada o dia todo.

Eu não sei quando eu despertei e me percebi uma mulher preta. Eu não sei quando aconteceu esse despertar, mas aconteceu. Não deve fazer muito tempo. Talvez no máximo cinco anos, porque envolvia muita coisa.

A primeira delas foi a depressão. Depois dela veio um processo longo de aceitação... mas esse não é um texto sobre mim.

Esse é um texto sobre como me reconheço mulher preta e como se calar no momento que estamos vivendo não é mais uma opção.

Durante anos da minha vida não enxerguei beleza em mim por consumir todo conteúdo branco que me cercava e está em todo lugar. Quando despertei do choque de perceber que não me encaixava em nenhum padrão branco de beleza, quando pouco a pouco assumi características que me envergonhava, o cabelo crespo o principal deles; então passei a consumir somente conteúdo que me encaixava. Vejo beleza na mulher preta. Em toda mulher que pareça minimamente comigo.

Com esse despertar veio o baque de entender o racismo.

Estou vivenciando o mais alto impacto diário nas notícias do que ser preto nesse mundão fudido que odeia a cor da MINHA pele. Esse Brasil que se odeia e mata preto favelado por esporte. Esse mundo que desdenha da história. Esse Brasil que saiu pouco mais de cem anos da escravidão. Pouco tempo, não?

É um avalanche de ódio. Uma ruptura em mim. Eu faço parte desse grupo. Eu sou uma mulher. Preta.

É enlouquecedor toda raiva que me consome. Cada corpo preto estirado no chão é uma vida perdida por ter nascido no corpo preto. Querem nos matar todos os dias. Só queremos e precisamos sobreviver, puta merda.

Quero expressar toda loucura raivosa que me assola, mas as lágrimas não descem. Está entalada, descrente do que continua acontecendo. A sensação de impotência continua gritando aqui dentro. Quero falar, preciso me expressar sobre essa merda toda que está me atravessando.

Tá foda.

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